O fim da meritocracia em 2033. Por Marcelo Samogin. São Paulo, 15 de Agosto de 2019.
O blog da Super Interessante publicou em sua edição digital em 12 de Agosto de 2019 uma provocação curiosa sobre o tema meritocracia. Mais curiosa é a chamada “A palavra meritocracia foi inventada por um escritor de esquerda. E é uma distopia”.
Antes de evoluirmos sugiro o glossário para entender o que significa a tal distopia. Também me rendi ao dicionário também para entender essa pérola.
Distopia pode significar (em poucas palavras):
- Para a medicina, significa uma localização anormal de um órgão. Seria algo como no caso dos homens o pênis nascer no lugar o nariz, para ser caricato e divertido
- Para a filosofia, significa o oposto da utopia ou evento que “caracteriza uma sociedade imaginária controlada pelo Estado ou por outros meios extremos de opressão, criando condições de vida insuportáveis aos indivíduos.” Fonte: www.significados.com.br
Voltando ao tema, o blog destaca que o termo meritocracia foi cunhado por um autor inglês chamado Michael Dunlop Young, que em 1958 publicou o romance “The Rise of Meritocracy”, escritor este que foi um membro importante do Partido Trabalhista inglês.
Ainda segundo o blog, o livro de 1958 foi recusado como pauta por 11 vezes até que foi publicado. Para resumir a história o livro é um romance que previa o fim da meritocracia em 2033 por conta de uma revolta por que o modelo meritocrático agrava as diferenças e injustiças, levando a sociedade ao caos.
Para ser breve, o argumento central do livro é que as pessoas eram classificadas conforme sua inteligência e medida por testes padronizados (tipo os que conhecemos PI, DISK). O livro ainda reforça a tese de que os mais inteligentes são mais inteligentes por que receberam educação de melhor qualidade, e por isso terão sempre os melhores empregos e mais facilidade de ascender na sociedade. Para o autor, este sistema somente produz diferenças e agrava injustiças, provocando a revolta da meritocracia em 2033.
Como romance trabalhista é perfeito. Ele acomoda, conforta e reforça a tese de que quem nasceu pobre, somente se torna inteligente se tiver acesso a escolas sofisticadas da classe burguesa. Sabemos que isto não é verdade.
Contextualizando o “romance”
O romance escrito em 1958, portanto no pós guerra. Na segunda grande guerra, a Alemanha nazista dizimou metade de Europa, destruiu a França, bombardeou a Inglaterra intensamente pelos ares e impôs um bloqueio econômico e de suprimentos ao país por anos com sofisticados submarinos. Os projetos de radares desenvolvidos pelos britânicos foram doados como parte de um acordo aos Estados Unidos, que por sua vez, os aprimorou e permitiu que os submarinos alemães fossem identificados a grandes distâncias e afundados. Os radares mais modernos permitiram que a frota mercante entregasse comida à Inglaterra, evitando a mortandade por fome. O esforço de guerra da economia norte americana impulsionou a riqueza do país e fez o PIB crescer à taxas absurdas. Finalizada a guerra, havia um continente a ser reconstruído, e uma população enorme para consumir produtos, serviços e ideias dos norte-americanos. Lembrando que a China, Índia, Coreia e outros tigres asiáticos ainda não representavam muito do PIB mundial.
A verdade distópica
Supostamente a maioria das pessoas gostaria de estudar em boas escolas. Com lápis, cadernos e uniformes gratuitos, como sendo o estado o grande provedor de oportunidades igualitariamente divididas entre todos os que nascem. Isto seria uma distopia na verdade. A igualdade de acesso e oportunidade seria justa, mas não tornaria todos mais inteligentes. Há uma confusão aqui entre os temas inteligência, esforço, desempenho.
Confundir é sempre uma excelente estratégia de guerra, e também junta pessoas de todas as classes em torno do mito de que bastaria ter acesso a boa educação para demonstrar suas habilidades mais preciosas para a sociedade capitalista. Sabemos que a lógica não é bem esta.
A maior discussão (e por vezes esquecida) deixa de lado o esforço extraordinário, boas posturas e o desempenho, pilares da meritocracia no mundo das empresas.
Há diversas experiências de candidatos selecionados de escolas não “top” que surpreendem os selecionadores de RH e as empresas como um todo. É preconceito pensar que somente trainees da USP, Poli, FGV, Insper são realmente bons. Encontramos gente disposta a trabalhar sério em todos os lugares, vindos de todas as escolas e regiões.
Alguns poderão argumentar que a exposição de pessoas que estudam em boas escolas é maior, também é verdade. Mas quem aceita este argumento como fato líquido e imutável não consegue superar este estigma de não ter estudado na USP.
Aqui temos um fato concreto, concordem ou não. Quando a economia não cresce e não cria oportunidades e trabalho para todos, os governantes se veem “em papos de aranha”. Precisam cortar orçamento, investimento, inventam cotas para negros, idosos e outros, criam distorções igualitárias para tentar consertar outras distorções.
A convulsão social na sociedade nasce da falta de emprego, da saúde e da segurança pública precária, falta de acesso ao saneamento e serviços básicos que o estado deixa de entregar. Isto sim agrava as diferenças sociais e corta o acesso de todos a melhor educação e aos melhores empregos. Não podemos aceitar como justificativa o fato de que somente tem sucesso na vida quem teve acesso farto e regular a tudo, e facilidades.
A confusão extrema é pensar que nem mesmo o esforço extraordinário pode ser suficiente para obter a sua mobilidade social, e somente quem teve sorte consegue sucesso na vida, na carreira e mais dinheiro.
Você não será bilionário, mas será reconhecido
O grau de esforço extra nos estudos e trabalho sim podem lhe oferecer mais oportunidades para mostrar seus talentos em outras praças. É provável que você não fique bilionário, não mesmo, mas isto não significa que a meritocracia não exista.
A distopia é achar que sem esforço pessoal extra, boa postura e dedicação diária, você será aplaudido e reconhecido como se entregasse um bom desempenho, não será. Segundo o autor do romance trabalhista, temos supostamente até 2033 para mudar esta história.
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Sobre o autor
Marcelo Samogin, Diretor da REMUNERAR, consultoria especializada em remuneração estratégica e soluções de meritocracia. Nos últimos 30 anos atuou como profissional especialista em remuneração e executivo de RH nos segmentos de indústrias B2B e B2C, prestação de serviços e varejo de luxo. Fundou e lidera desde 2011 a consultoria REMUNERAR que atendeu mais de 60 clientes e projetos exclusivos de meritocracia desde 2011. Professor convidado da Universidade Federal de Viçosa (UFV-MG) e Fundação Dom Cabral (FDC PAEX) para os temas Gestão de Pessoas e Remuneração Estratégica. Ex diretor do Grupo de Remuneração e Benefícios da AAPSA. Coordenador do Grupo de Remuneração Estratégica da ABRH-SP Região Oeste.
Sobre a Remunerar
A REMUNERAR tem por missão desenvolver soluções inteligentes de remuneração e recompensa que transformem os desafios de produtividade e crescimento de seus clientes em oportunidades para obterem resultados diferenciados através das pessoas.
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