Preguiça, preconceito e meritocracia

Meritocracia recursos humanosEste artigo é um contra ponto e também uma provocação à recente reportagem da Você S.A. publicada no mês de julho de 2019. sobre o tema meritocracia e diferenças sociais.

Por Marcelo Samogin Diretor da Remunerar.com.br

Este é um tema mais que polêmico e qualquer um pode opinar frente alguma situação já vivida onde se sentiu menos privilegiado para competir. Independente da polêmica em torno do tema e conceitos da meritocracia, se justo ou injusto, se é verdadeiro ou falso no Brasil por conta das nossas enormes diferenças sociais, quero fazer três registros objetivos sobre a minha experiência, considerando os mais de 30 anos que atuo como profissional de recursos humanos.

Ainda que não pretenda esgotar o assunto, os pontos a seguir são relevantes considerando o meio e ambiente que temos hoje na sociedade e empresas.

Ponto 1: Quem nasce pobre, negro, ou toma decisões ao longo da vida diferentes da maioria, terá que se esforçar mais para checar o topo. É injusto, mas é a verdade.

Ponto 2: Discutir meritocracia somente a partir do acesso, cotas, pontos de partida, pobreza ou riqueza, cor de pele, orientação sexual, está errado por não considerar o desempenho do indivíduo, ou disposição para fazer algo diferente e melhor do que a grande maioria.

Ponto 3: Combinar diversidade (social, sexual, cor, raça) com desempenho é forma mais inteligente para se criar um ambiente de igualdade de acesso e acelerar a competição para que a sociedade como um todo evolua mais rapidamente. Mas como fazê-lo?

Apontadas as três (temos outras) questões acima temos que dissecar cada uma delas.

Nasci pobre e agora?

Acorde mais cedo, enfrente o preconceito, reclame menos que não conseguirá cursar uma universidade pública como na década de 90, e viabilize seus estudos da forma que conseguir. Hoje com a internet o acesso ao conhecimento é muito mais tranquilo do que no passado. O acesso a um curso de idiomas, cursos gratuitos e à distância, são muitas as opções, basta você abandonar a postura de inferioridade, se convencer que terá que acordar mais cedo que o povo que nasce em berço de ouro, e vá buscar seu lugar ao sol.

Leia menos estatísticas suspeitas que reforçam os problemas das diferenças e fazem as pessoas perderem tempo, discutindo questões que talvez sejam necessário algumas décadas para serem resolvidas, como a tão sonhada igualdade de oportunidades, que se aproximará da igualdade de direitos.

No fundo você terá duas opções, reclamar, ou não olhar para os lados e avançar. E isto certamente lhe diferenciará num trabalho, nos estudos. Certamente esta postura lhe será importante para desenvolver um novo projeto, um novo sistema, uma “startup” ou pequena empresa. Este é o perfil que as empresas ou organizações esperam para inovar. Cada vez que as pessoas se afastam deste ambiente, voltam a reclamar e se lamentar culpando o país, os governos, os escravagistas, os norte-americanos, os chineses por tudo que temos hoje como diferença na sociedade.

Estatísticas servem para explicar tendências tendenciosas. Dados da ONU e OCDE criticam a falta de igualmente no Brasil mas não criticam a postura protecionista de países que agravam (desde antes de 1808) nosso abismo social. Tenho a impressão que os dados servem para convencer quem nasceu pobre que qualquer esforço será em vão, melhor criticar, se revoltar, e até ir surfar. Um absurdo.

Sou filho de mãe costureira e pai metalúrgico, e tenho orgulho. Branco, hétero, magrelo, morador de periferia, eu entendi cedo que os estudos me fariam diferente na dura competição da vida profissional. Quantas vezes perdi meu tempo lendo estatísticas sobre diferenças sociais? Nenhuma. E confesso aqui que aos 20 anos, fui preterido numa vaga de RH por que a empresa japonesa selecionadora, preferiu contratar um estagiário de RH (assim me disse uma fonte da empresa) de descendência japonesa para a vaga. Ao menos esta foi a história que me contaram. Meses depois ingressei em outra indústria, ainda maior e repleta de oportunidades de aprendizado para um estagiário de economia.

Você tem acesso quando você cria valor

Mérito é criar valor, para uma empresa, para uma sociedade, para uma entidade, para algum que perceba importância no que está sendo feito e entregue.

Independente de seu esforço pessoal, um dia, um chefe desqualificado, ou uma empresa, não reconhecerá seu esforço, sua entrega, seu resultado, e destruirá o conceito de meritocracia para sempre para você.

Poucos foram os elogios que recebi de chefes nas empresas, mas meus clientes fazem questão de fazê-lo. O trabalho que desenvolvo hoje pela Remunerar cria mais valor para meus clientes do que para os meus chefes, somente isso.

Se nasceu numa família pobre, possivelmente este conceito tenha sido destruído logo no início da vida. No meu caso sempre ouvi dos meus pais “estudo para ser alguém na vida”, e eu preferi confiar cegamente neles.

Na natureza tudo é diferente. Esperar que esse padrão de igualdade seja atendido em todos os campos da vida, seria um sonho utópico. Seria ótimo se todos tivessem acesso a hospitais de primeira linha, todos com acesso as escolas e universidades, bons empregos e conforto privado e social. Não existe isso, nem na Suíça, Finlândia, Dinamarca, Holanda.

Crie mais valor a partir do que sabe fazer, do que o seu ambiente lhe oferece como vantagem, faça o melhor e sempre entregue mais que a outra parte espera, o mérito será naturalmente reconhecido. Faça um teste para se convencer de que a meritocracia existe sim de forma diferente para cada de nós.

Não espere que as empresas façam processos seletivos ou promoções levando em conta deformidades sociais e culturais, como alguns estudiosos sugerem. Pouco se fala sobre esforço extra e desempenho do indivíduo. Será que os critérios atuais para se promover alguém devem ser flexibilizados? Tente levar este assunto para o conselho de acionistas de sua empresa sem conectar as questões de desempenho.

Desempenho social e o seu desempenho

Este seria a forma de abordar mais amplamente a questão da meritocracia para todos, embora muitos não tenham a clareza para entender que isto exista como possibilidade. Eu explico.

Quando você nasce numa favela, o seu espectro de mobilidade social pode ser estudar numa universidade pública por cotas, ou em uma dessas que laçam alunos quando passam pela calçada. Sem problemas, você poderá ser o primeiro da família a se sentar num banco de universidade. Você poderá um dia pensar em morar em outro local, oferecer aos seus filhos melhor educação formal, um intercâmbio para o exterior e um dia se sentir incluído na sociedade. Poderá até chegar a ser um presidente da república, mas as chances são menores. Será?  Depende muito de suas escolhas e seu perfil. Se da favela você pular para um movimento estudantil e ser um líder carismático, poderá se eleger vereador, deputado, prefeito e presidente. Quem disse que não há mobilidade social?

O seu esforço e desempenho será chave para ser um profissional reconhecido e bem remunerado, ou mesmo um presidente da república. Quando você individualmente avança você está trabalhando para reduzir as diferenças ao seu redor.

O esforço que cada um empreende, o desempenho extra individual é tão importante que derruba o mito que somente os mais endinheirados conseguem progredir na vida e na sociedade.

Estatisticamente é praticamente impossível que a maioria das pessoas “bem sucedidas” tivessem nascido em “berço de ouro”, estatisticamente impossível uma vez que somente uma parcela mínima da população detém uma parcela grande da riqueza de um país. Basta perguntar para as pessoas suas histórias de vida e concluir rapidamente que a grande maioria teve que despender um grau de esforço razoável para chegar onde esta na sociedade.

Por fim, discutir meritocracia sem discutir desempenho é um tiro no pé das empresas e todas elas sabem que sem esforço individual ou em grupo, não há mérito de novos clientes, não há mérito de entregas feitas com qualidade, não há mérito em dividir a riqueza para se reduzir as diferenças sociais que ainda são muitas no Brasil.

O perigo é a ditadura imposta por grupos que defendem suas posições, sempre legítimas, mas que entendem que somente no grito ou “goela abaixo” suas teorias devam ser aceitas pela sociedade. Aos que não concordam sobram diversos rótulos, como: Atrasados, conservadores ou preconceituosos.

Somente a educação sem viés muda uma sociedade, lembrando que a melhor educação é aquela que você aprende na mesa do jantar com os seus pais e pessoas que ama.

Convite: Estudo salarial anual

Caso não tenha acesso a uma pesquisa salarial atualizada, você poderá participar do estudo patrocinado pela Remunerar com mais de 50 empresas, e sem custo. Para participar deste estudo clicar aqui. O prazo do estudo foi renovado e você poderá enviar os dados salariais, benefícios e práticas até o dia 30 de cada mês.

Com base em informações de mercado mais as avaliações de desempenho, você poderá tomar decisões com mais segurança sobre como reforçar suas práticas de RH para os anos seguintes de crescimento do PIB.

Sobre o autor

Marcelo Samogin, Diretor da REMUNERAR, consultoria especializada em remuneração estratégica e soluções de meritocracia. Nos últimos 30 anos atuou como profissional especialista em remuneração e executivo de RH nos segmentos de indústrias B2B e B2C, prestação de serviços e varejo de luxo. Fundou e lidera desde 2011 a consultoria REMUNERAR que atendeu mais de 50 clientes e projetos exclusivos de meritocracia desde 2011. Professor convidado da Universidade Federal de Viçosa (UFV-MG) e Fundação Dom Cabral (FDC PAEX) para os temas Gestão de Pessoas e Remuneração Estratégica. Ex diretor do Grupo de Remuneração e Benefícios da AAPSA. Coordenador do Grupo de Remuneração Estratégica da ABRH-SP Região Oeste.

Sobre a Remunerar

A REMUNERAR tem por missão desenvolver soluções inteligentes de remuneração e recompensa que transformem os desafios de produtividade e crescimento de seus clientes em oportunidades para obterem resultados diferenciados através das pessoas.

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